Infertilidade, evasão escolar,
problemas emocionais e tantas outras consequências da
“Pobreza Menstrual” foram
debatidas na Tribuna Popular, que abriu os trabalhos da
sessão plenária da Câmara
Municipal de Imperatriz nesta quarta-feira, 18. O tema
abordou o crescimento da
problemática na cidade e explicou a situação vivida por
inúmeras mulheres, meninas e
adolescentes que por falta de recursos não têm acesso ao
absorvente e outros itens de
higiene pessoal necessários no período menstrual.
A proposição foi solicitada pela
vereadora Claudia Batista (PTB) e contou com a
participação da juíza de direito
do Tribunal de Justiça do Maranhão, Sônia Amaral, quem
iniciou os debates na Casa
Legislativa, relatando um testemunho que lhe fez conhecer a
pauta e “perceber que precisamos
sair de nossas bolhas para enxergar as demandas
urgentes que existem na
sociedade”.
“ Não conhecia e nem sabia das
consequências na saúde das mulheres por não possuírem
esse simples objeto. Vocês sabiam
que algumas mulheres usam miolo de pão para
retenção do fluxo menstrual?
Quando uma adolescente deixa de ir para a escola por não
ter um absorvente é um alerta que
precisamos mudar. A realidade é muito maior e é
chocante”, salientou a juíza ao
parabenizar a Casa por proporcionar o debate.
A ginecologista Karla Zolinda
explicou às consequências que a falta do absorvente e de
produtos adequados para a higiene
pessoal provocam na saúde física e emocional das
mulheres, como a infertilidade e
a evasão escolar. Segundo Karla, o período menstrual
que dura de 4 a 7 dias e que
acompanha a vida toda da mulher precisa de um olhar
humano e de empatia social.
“ Dos 14 aos 48 anos as mulheres
sangram. Essa é a realidade. Passamos a maior parte
do nosso tempo sangrando. Nós
trabalhamos sangrando, vamos a escola sangrando,
atendemos a nossa família
sangrando. E, mesmo assim, temos que falar sobre isso para
que a sociedade entenda que
muitas de nossas mulheres estão sendo constrangidas,
isoladas por não terem condições
de lidar com esse processo natural do nosso
organismo”, explicou a
ginecologista.
A dificuldade vivida pelas
estudantes, principalmente da Zona Rural, foi apresentada pela
Cleomar Conceição, presidente da
Associação de Gestores da Rede Municipal, que
explicou o impacto que a falta de
absorvente traz na vida escolar.
“Em 2018, o nosso levantamento
apontou que mensalmente por causa do fluxo
menstrual, as alunas faltam 4/5
dias, totalizando no ano 40 dias, ou seja, mais de 200
horas a menos de aprendizado no
ano letivo”, disse Cleomar que também testemunhou
o desespero de uma aluna que
estava sem conseguir realizar a interrupção do fluxo
menstrual para ir à escola.
Dados do IBGE apontam que 4
milhões de meninas no Brasil não possuem algum requisito
mínimo de higiene, como papel,
água ou sabão para uso diário. Durante a Tribuna
Popular, foi levantada a
necessidade de fortalecer as políticas públicas que garantam a
dignidade feminina.
“ Se questionarem que os
vereadores estão falando de absorvente, expliquem o porquê
do assunto ser relevante para a
sociedade. Precisamos, sim, urgentemente investir em
infraestrutura e acesso aos
produtos de higiene menstrual. Os absorventes poderiam ser
disponibilizados em postos de
saúde, por exemplo, como já ocorre com outros itens, ”
sugeriu a propositora da Tribuna,
vereadora Claudia.
Estiveram presentes e também
participaram do debate o vereador Flamarion Amaral
(PCdoB), o vereador Manchinha
(PSB), o vereador Fábio Hernandez (PP), a procuradora
do município, Alessandra Belfort,
a psicóloga Shyrlani Silva, a Coordenadora do Centro de
Referência e Atendimento à
Mulher, Maria da Conceição Chaves de Souza, a diretora
adjunta da Casa da Mulher
Maranhense, Kelly Santana, a presidente do Conselho da
Pessoa com Deficiência, Regina
Célia Nobre Lopes, a professora e gestora da Escola
Tocantins, Teresinha Sodre, a
Claudia Costa, diretora da Casa da Mulher Maranhense e a
Estudante de Medicina, Taynara
Santos.
Por Karoline Tragante
Foto Fábio Barbosa